Disputando uma vaga de gerência, eu havia preenchido praticamente todos os pré-requisitos, como conhecimento técnico, liderança de pessoas, entre outros, porém acabei perdendo a chance de ser promovido por um único fator: introversão. Faltava aquela agressividade, sangue nos olhos, faltava me expor mais, faltava ser mais Tony Robbins.
Mas será que todos os líderes precisam mesmo ser mais Tony?
No livro “O poder dos Quietos”, mostra como a sociedade americana sofreu uma forte alteração na virada do século XX, começando com Daniel Carnegie, passado de um Culto ao Caráter, onde o caráter ideal era alguém sério, disciplinado e respeitável, para o Culto à Personalidade, onde se valoriza a ousadia e a versatilidade das pessoas, o foco é em como as pessoas os viam. Todo norte-americano era um performer.
Toda essa transformação cultural influencia os negócios e as escolas, que preparam as crianças para serem cada vez mais extrovertidas. A introversão então ganha o seu papel de vilão. Um mal que precisa ser erradicado das crianças, pelo bem delas no futuro.
Caminhamos então para um extremo do Ideal da Extroversão e como todo extremo, ele é perigoso.
Primeiro, porque segundo pesquisas podemos sim criar ferramentas que escondem os traços da introversão, como falar melhor em público, ser mais sociais e atraentes, mas nunca iremos erradicá-la, pois a introversão possui um fator biológico muito forte. Mesmo sendo um bom orador, o introvertido sofre no processo, sendo uma pessoa bem social, o introvertido gasta uma quantidade grande de energia para começar alguma conversa. (acredite, eu sei como é isso).
Ou seja, se todos precisam ser extrovertidos, os introvertidos estão fadados a sofrerem para se enquadrarem no ideal.
Segundo, as pesquisas também mostram que nem todo bom líder precisa ser extrovertido. Claro, os extrovertidos possuem uma força maior para motivação. Mas são melhores quando a equipe precisa ser puxada, quando desempenham um papel de execução muito forte.
Porém, quando a equipe precisa criar, o líder introvertido se sai melhor. Sem a obsessão pelo holofote, nesses casos, o líder cria a plataforma necessária para que os membros da equipe possam entregar o melhor.
Por isso, o extremo nunca é inteligente. Por achar que todos os líderes devem ser Tony Robbins, estamos perdendo alguns Bill Gates, Warren Buffett, Abraham Lincoln.
É preciso saber reconhecer o jogo para saber qual a melhor versão de líder que você precisa.
Mas o mais perturbador é perceber que às vezes seguimos um modelo, em busca de um ideal criado há muitos anos atrás, sem parar para refletirmos o porquê e se ainda faz sentido.
Criamos os nossos filhos tentando anular algumas qualidades de pessoas introvertidas, porque achamos que a extroversão é o caminho do sucesso. Será mesmo?
Reflita! Questione-se!
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