“Onde você pretende estar daqui a 5 anos?” é uma pergunta muito comum em processos de seleção e talvez uma das mais chatas de responder.
Apesar da pergunta ter um lado de autoconhecimento que acho que todos deveriam se questionar (não para o emprego, mas para a vida), não quero me aprofundar na sua resposta, mas sim no fato de termos uma obsessão pelo futuro.
Desde sempre, a humanidade tem procurado meios de prever o futuro, encontrar a fórmula que explique eventos que ainda não aconteceram. Isaac Newton passou anos e anos analisando a bíblia para encontrar mensagens secretas sobre o futuro.
Mas não precisamos ir tão longe, pense quantas previsões você fez e continua fazendo na sua vida.
Lembra daquele joguinho que fazia quando criança, que dizia com quantos anos ia se casar, quantos filhos teria?
Vivemos tentando antecipar o amanhã. Quando irei me aposentar? O que farei quando me aposentar? Quanto terei na conta bancária daqui 10 anos? Qual será a grande tendência do próximo verão? Qual será a nova grande invenção da humanidade? Quando teremos o hoverboard do McFly ? Tentamos pensar em tudo, só não sabemos onde estaremos daqui 5 anos rs.
Criamos até modelos para prever o futuro. Quais os números que serão sorteados na megasena? Quais serão os lucros das empresas daqui a 10 anos? Qual será a minha taxa de retorno dos investimentos até a minha aposentadoria? Qual será a demanda pelo produto da empresa daqui 2 anos?
Tudo isso tem um lado positivo que é nos fazer pensar sobre o caminho.
Mas assim como a pergunta do processo seletivo, a resposta em si é inútil. Porque muito provavelmente esse futuro não existirá. Porque somos comprovadamente péssimos em prever o futuro.
Temos tantos vieses, que nossas previsões são, na sua grande maioria, furadas. Esqueça a sua planilha da mega sena, em vez disso, faça um cálculo de probabilidade de ganho.
E dois pontos principais prejudicam as nossas previsões.
Primeiro, como explicado por Nassim Taleb (e repetido por milhões de pessoas nesse último ano), não conseguimos identificar o cisne negro, eventos de baixa probalidade que influenciam absurdamente as séries históricas. Eventos que muito provavelmente nunca aconteceram e por isso são difíceis de prever. (O Covid não seria um deles, segundo o próprio Taleb)
Sem esses eventos, qualquer previsão de longo prazo pode ser uma furada, mesmo tendo funcionado com um back test, usando dados passados para garantir um modelo.
Segundo, a nossa falta de compreensão de que o mundo é probabilístico.
Sempre que queremos prever algo, temos apenas uma resposta certa. O que restringe a nossa taxa de sucesso. Mas com tantas variáveis, seria mais condizente termos cenários probabilísticos.
Daqui 5 anos, com 80% de chances pretendo ter me desenvolvido em um cargo de liderança na empresa e contribuído para o retorno do negócio com projetos de inovação. 15% de chances de ter saído para outro lugar e 5% de ter ficado estagnado na posição que estou me candidatando porque não consegui me encaixar na cultura da empresa. (Seria essa uma boa resposta? ou apenas uma boa reflexão?)
E nesse sentido, de probabilidades, quem nos dá as melhores respostas, adivinhem, é a previsão do tempo.
Sim, aquela que sempre erra é uma das únicas que nos fala em termos de probabilidade.
E somos tão ruins em analisar de forma probabilística que achamos que é furada, porque na probabilidade já assumimos algo que nos fere no fundo dos nossos corações: Que podemos estar errados.
Reflita sobre o seu futuro, mas não se apegue à sua previsão. Você tem 95% de chances de estar errado.
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